domingo, 28 de dezembro de 2008

E mais um ano se vai... tarde!


Adeus ano velho!

Bendita seja essa frase! Especialmente se colocada no plural. Fazendo uma breve retrospectiva dos últimos anos, percebi que as recordações que ainda guardo não são as melhores. De longe, a maior delas foi a perda da minha mãe. Foi como perder o chão, o norte, o ar, as esperanças e objetivos. Às portas de completar o segundo ano de sua partida deste plano, começo a perceber que alguma coisa grandiosa está prestes a acontecer. Foram muitos fatos, muitas mudanças e decepções enormes que sucederam recentemente. Seja o que for, espero ainda ter força para enfrentar. Bom ou ruim. Feliz ou triste. Mas, acima de tudo, abolindo o medo. Palavrinha danada essa! Pequenininha e ordinária! Sentimento que faz bloquear aquilo que todos anseiam nessa época - um ano NOVO. O novo é desconhecido e desejado. Provoca sentimentos dicotômicos. Lança. Trava. Mas o fato é que não há como fugir dele porque ele vem ao nosso encontro. O que fazer? Se entregar à vida talvez seja a resposta. E, mais uma vez, encontrei nas palavras de Martha Medeiros uma síntese dos desejos e dos votos para mais um ano que se aproxima. Que sejamos fortes. Que tenhamos a coragem dos maiores guerreiros da história para enfrentar o maior de todos os inimigos - o medo. Que essa coragem nos tome não só às vésperas de um ano novo, mas a cada novo amanhecer dos próximos dias de nossas vidas.






Sem medo de perder



Chega o final do ano e a gente se projeta pro futuro de uma forma um pouco vacilante: por um lado, nosso espírito está voltado para a renovação, para investir em projetos inéditos, para sonhar alto e combater nossas carências. É como se pudéssemos, de um dia para o outro, zerar o que foi realizado e nascer de novo.


Por outro lado, temos dificuldade em dar essa zerada, porque isso significaria abrir mão de algumas coisas que foram vividas, e ninguém quer trocar uma coisa por outra, e sim acumular. O ideal seria o novo ano nos receber de portas escancaradas para que passássemos com toda nossa bagagem.


Porém, a porta não é tão escancarada assim. Não dá pra trazer tudo com você. Principalmente se você está assim tão repleto de desejos novos. Para que possamos receber o novo, é preciso deixar pra trás desejos antigos. Isso não significa que a gente não deva guardar boas lembranças, mas não dá pra se agarrar a isso como a uma âncora. A gente só pensa em ganhar, mas é preciso aprender a perder.


Foi lendo uma crônica do Contardo Calligaris, de dezembro de 2005, que me deu o estalo: como é que eu vou abrir espaço para novos acontecimentos e emoções na minha vida se não consigo me despedir do ano passado, do tempo passado?


Adeus ano velho. Foi ótimo, foi péssimo, foi fácil, foi difícil, me dei bem, me machuquei, teve de tudo. As coisas boas naturalmente vão se acomodar na minha mochila e vir comigo, mas e tudo aquilo que não cabe mais na minha vida? Faço o que com o excesso de peso?


Algumas pessoas desejam uma nova perspectiva profissional, mas, em vez de dar um basta para o trabalho que já não serve, se arrastam mais um pouco e os prognósticos de novidade não se cumprem. Há os que querem parar de fumar, parar de engordar, parar de beber, mas pra tudo isso terão que abrir mão de algo difícil de abandonar: o prazer que certos maus hábitos proporcionam.


E tem aquele assuntinho onipresente, as relações amorosas. A gente já não vê mais graça em sofrer, não quer se acostumar com a dor, com as repetições, com a aridez do coração, mas como virar a página depois de tudo o que foi investido, de tanta tentativa, de tanto sentimento que não foi inventado, mas que existiu de fato? Pra responder a essa questão, volto (e voltarei sempre) a uma frase do Norman Mailer: "As pessoas procuram o amor como solução para os seus problemas, quando o amor é a recompensa por você ter resolvido seus problemas."


E emendo com uma citação que completa a anterior. Do Calligaris, claro, guru e inspirador desta crônica: "Meus votos para todos: um ano novo sem medo de perder."



Texto da Martha Medeiros publicado na Revista O Globo, em 28 de dezembro de 2008.

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